quarta-feira, 30 de outubro de 2013

RETALHOS DE MEMÓRIAS EM DADOS BIOGRÁFICOS



Não pude me furtar a esta declaração. Quedei-me a ela. Passei a observá-la. Interpretá-la. Tomá-la para minhas lembranças. Para meus retalhos.

Era Graciliano Ramos, autor de Caetes, Angústia, Vidas Secas, dentre outra, ao se referir aos "dados biográficos"

Cegou-me Guimarães Rosa a dizer, todavia,  que "o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando". (*)

Sim, as pessoas estão sempre mudando: de comportamento, de hábitos, de casa.

Há tempo eu solicitava de meu pai sua própria auto biografia. Dizia-me, então, não ter vida que importasse tal.

A partir desse momento, atônita, passei a olhar suas obras. Conteúdo histórico gigantesco. Pesquisa avassaladora. Quedei-me ante a retórica, embora acatasse sua vontade naquele instante. 

A mão já lhe dava sinais dos anos. Trêmulas as letras não mais lhe correspondiam, mas escrevia seus apontamentos. Turvava-lhe  a visão. Mas a memória ainda ativa. O cérebro trabalhava como um jovem trintão, naquele corpo quase centenário.

O desenlace fora inevitável - 08 de maio de 2012. Aos 94 anos entrega-se a sua última obra. Algumas inacabadas, avolumam-se no armário a espera da edição. Originais datilografados, que a esta coube como herança.

Ali iniciava nova jornada. Aquela que só ele poderia empreender. Sem dúvida novas histórias o aguardariam.

Sereno. Sóbrio. No esquife detinha a majestade que sempre lhe fora outorgada - no trajar, no falar, no calar.

O terno aprumado. Barba bem feita. Cabelo penteado. Rosto sereno, como sereno aquele que se despede, ante a casa em ordem. O dever cumprido. Dois filhos. Netos - três. Bisnetos - cinco. Uma nora que o acompanhara toda vida.

Vi meu pai inerte. Flores brancas. Mãos entrelaçadas - poucos sinais de senilidade. Rosto que não lhe traia os anos. Pele rosada. Rugas poucas.

No semblante o sorriso como a vislumbrar a esposa amada, companheira por longos sessenta e cinco anos, aguardando-o na chegada.

Momentos furtivos. Minha mente divagou. Vivenciei nossa vida. "A morte é para os que morrem". (*) Vinham-me nítida as linhas.

Há pouco nossas mãos unidas, quentes, buscavam-se, acariciavam-se, apertavam-se em despedida inevitável. Era o leito de hospital, do qual tinha plena convicção de que não sairia. O regresso a casa era-lhe distante.

Resplandecia-lhe o lar vindouro. Talvez o pudesse antever em suas imaginações. Em seus devaneios noturnos, a que fora acometido.

Conhecia a dificuldade. O dizer-me adeus. Mas, pude acalmar-lhes os ânimos: - entregue-se em paz; ficarei bem.

Difícil me fora. Claro. Anos de convivência. Anos de convergência. Anos de pontos de vista compartilhados - quantos até em rompantes e acaloradas trocas de ideias, nem sempre concordantes.

Ah! Meu pai. Quanto poder quisera biografá-lo. Mas difícil falar de um pai a quem se amou e se ama tanto. A um pai que sempre me fora orgulho maior, ainda que jamais pudera assim me expressar. Escondia no peito. A reserva gritava - insensata reserva de não querer e não poder se abrir. Ah! Tempos outros.

Mas aqui estou. E fora Graciliano Ramos que me tornara mais presente o que imagino poder passar às linhas. Este é apenas um pequeno ensaio. Rascunho que aguarda por novas linhas. 

Imagino que a "vida devia de ser como sala do teatro, cada um inteiro fazendo com forte gosto seu papel, desempenho", porque ... "o real não está no início nem no fim, ele se mostra pra gente é no meio da travessia"... (*)

E como foram boas nossas travessias. Lembranças quantas as tenho. Quantas me remetem a saudade longínqua. O embalo terno em seu ombro amigo. A mão que me acolhia. Que ensinava a compor as primeiras letras. Não só minha mãe presente, mas meu pai a compartilhar, a dividir tarefas.

A linha do tempo, busca seu tempo. A linha do tempo encontra tempo. A linha do tempo se perde no tempo entre os retalhos de lembranças tantas. 

Se ao pensar em nossas jornadas entre livros e linhas, encontrar no verso de sua foto, com quepe bem aprumado, melhor não pudera ser para esta filha, o registro a punho em que nos dá o tempo - 1938 - o local - Escola de Aviação Militar, Campo dos Afonsos Marechal Hermes no Rio de Janeiro, sua identificação por meio das iniciais do seu N.M.A. e a idade cronológica.

    

ET:- Embora me fora inspiração Graciliano Ramos, tecer chuleados pude fazê-los com os retalhos de palavras de João Guimarães Rosa. Interessante...
apontamentos de Inajá Martins de Almeida 


___________________

(*) frases do livro Grande Sertões: Vereda de João Guimarães Rosa em Leituras do Giba (30/10/2013)

http://leiturasdogiba.blogspot.com.br/2009/04/42-frases-de-grande-sertao-veredas.html

interpretação do livro
http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/literatura/grande-sertao-veredas-analise-obra-guimaraes-rosa-700305.shtml

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

FOTOS NELSON MARTINS DE ALMEIDA


1948 - ÁLBUM DE ARARAS - FOTO INSERIDA EM DADOS BIOGRÁFICOS 





1948 - REUNIÃO IMPRENSA - ÁLBUM DE ARARAS


clique sobre a imagem

na primeira foto, sentado a esquerda Nelson Martins de Almeida, ao lado do Prof. Vicente dos Santos 





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