domingo, 13 de maio de 2012

NELSON MARTINS DE ALMEIDA: quase um século de história



"Há pessoas que partem. Apenas partem. Há pessoas que partem e se vão. Mas há pessoas que se vão e não partem".  

Inajá Martins de Almeida
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Já com idade avançada, nos seus noventa e quatro anos, vejo meu pai. Quieto, absorto nas leituras, sempre concentrado em seus pensamentos.
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Ora lê. Ora escreve. Pouco fala. A audição e os passos lentos, lhe dão sinais da longevidade, mas a mente, mostra lucidez aguçada, que o tempo não corrompe.
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Leitor perspicaz, a memória não o condena. O passado, no presente, está sempre a colocar na pauta do dia. Nem ao menos uma vista além de um ponto lhe passa despercebida. 


Os livros - paixão sempre presente. Interessado pela leitura e pelo transmitir o gosto e o saber de sua importância, tem no interesse da nova geração o galardão maior. Ademais

São poucos os que se sentam para ouvir histórias.
São poucos os que se dedicam a contar histórias.
Por serem poucos, são raros e necessários.

Historiador. Narrador incansável dos fatos históricos, muitos dos quais vividos e vivenciados. 


A história em sua mente sempre pronta a ser resgatada. Novelos de linhas intermináveis alinhavam e tecem os mais belos álbuns dos municípios - Araras, Rio Claro, Araraquara, Leme... 


Suas figuras ilustres ocupam lugar destacado em seu fazer História - Dr. Armando de Oliveira Salles, Maestro Francisco Paulo Russo, Ignacio Zurita Junior, Martinho da Silva Prado, Amadeu Salviato, Carlos Viganó. Tantos outros. Tantos.

E é na abertura de uma de suas maiores obras - Álbum de Araras, 1948 - que vê a compensação do árduo trabalho coroado de êxito pela iniciativa. 


Surpreende os que a aguardavam "pela justeza e pelo cunho de honestidade que imprimimos a ela".  


E continua: 


"Com esta obra, que requereu de nós sete longos meses de trabalhos exaustivos cremos ter cumprido fielmente a nossa missão, dotando Araras de seu mais rico documentário histórico-ilustrado que, enfrentará a posteridade, glorificando-se na imortalidade destinadas às obras de tal envergadura".
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A longevidade, entretanto, o priva da esposa, ararense, Dalila Salviatto de Almeida e do filho Itabajara, os quais há muito partiram. Entretanto, agracia-o com a nora sempre presente Ivani, os netos Alexandre, Juliana e David e cinco bisnetos - João Victor, Ana Clara, Ana Júlia, Rafaela e Sofia. 

À filha Inajá, lega-lhe o prazer pelas linhas. O gosto pelos livros. O recolher dos retalhos. O amealhar lembranças. O registrar memórias. O contar histórias. Vasto material inédito. Herança incalculável. 

Meu pai. Nelson Martins de Almeida, forjou minha vida entre livros, quando então passo  a declinar que entre livros nasci. Entre livros me criei. Entre livros me formei. Entre livros me tornei. Enquanto lia o livro, lia-me a mim o livro. Hoje não há como separar: o livro sou eu - bibliotecária por opção, paixão e convicção. 


Mais ainda, amante das letras e das linhas, das pesquisas e da narração. Herança maior que desde tenra idade me fora incutida pela mãe fantástica e sempre presente, pelo irmão dedicado e bondoso e pelo pai, observador, pesquisador inquieto e realizador de obras magnas que a história pode registrar.



E é na tarde ensolarada e fria de outono, na cidade de São Carlos, que a história se faz testemunha a registrar um fato. 


Momento em que o  "Historiador de Araras", impoluto, a contemplar seu silêncio interior, cônscio do seu legado inestimável, numa elegância e postura peculiar  "monta num querubim e voa levado pelas asas do vento!" (Sl 18:50)


Nelson Martins de Almeida  nasce em Araras, aos 19 de março de 1918 e falece em São Carlos aos 08 de maio de 2012, aonde residia com sua filha.


Inajá Martins de Almeida 

2 comentários:

Luiz Roberto Turatti disse...

Inajá, boa tarde.

Acabo de saber, pelas páginas da Tribuna do Povo de hoje, 19/5/2012, do passamento de seu pai (em São Carlos, no dia 8/5, aos 94 anos de idade), o ilustre historiador ararense Nelson Martins de Almeida, o qual não imaginava mais entre nós, uma vez que há muitos anos não o via nem notícias tinha de sua pessoa. Certa vez me disseram que estava morando em Araraquara...

Conhecia-o não só pelas andanças por Araras mas, principalmente, pelo histórico Álbum de Araras, de 1948, editado juntamente com Mamede de Souza. Muitas fotografias que o compõem foram fornecidas a ele por Benedito Antonio Rosa, proprietário do então Foto Rosa. Depois, muitas outras, pelo meu amigo e fotógrafo Fausto Antony Parente, que foi funcionário do Foto Rosa e que posteriormente se tornou genro de Benedito.

Lembro também que seu pai foi Assessor de Imprensa e Chefe da Casa da Cultura de Araras, se não me engano, no governo do ex-Prefeito Valdemir Gesuíno Zuntini.

Seu irmão Itabajara trabalhou com meu irmão Natal Emilio, na Civemasa. Como eram muito amigos, acabei me tornando também e, como sou um saudosista nato, sempre falávamos de seu pai, sobre as coisas de Araras, o especulava... Saudades!

Inajá, netos e bisnetos de Nelson Martins de Almeida, recebam o meu sincero pesar e o meu afetuoso abraço. Que Deus o tenha na Glória!

Sinceramente,

Luiz Roberto Turatti.

Inajá Martins de Almeida disse...

Obrigada Luiz Roberto pelas palavras gentis.
Quando você se refere ao prefeito, nos idos 1966, este era então Ivan Estevam Zurita, o qual tinha por meu pai grande apreço.
Findo esse mandato, nós nos transferimos para São Carlos.
Meu pai jamais se manteve afastado da história.
Araras, berço que o viu nascer fora agraciada com obra magna de envergadura ímpar - Álbum de Araras.
Grata pela lembrança.

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